Biblia II.PNG

O Espírito Santo na Sagrada Escritura

 

> Exortação Apostólica da Palavra de DEUS.

 

Como anterior acerca do Espírito Santo e das outras duas divinas pessoas da Santíssima Trindade, nada sabemos fora dos dados que nos proporciona a divina revelação. A razão natural, abandonada a suas próprias forças, pode demonstrar com toda certeza a existência de Deus, deduzida, por via de causalidade necessária, da existência indiscutível das coisas criadas. (O definiu expressamente o concílio Vaticano I com as seguintes palavras: “se alguém disser que o Deus uno e verdadeiro, Criador e Senhor nosso, não pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana por meio das coisas criadas: seja anátema. (D 1806)).

 

 O relógio reclama inevitavelmente a existência do relojoeiro. A demonstração científica da existência de Deus nos leva também ao conhecimento científico de certos atributos divinos, tais como sua simplicidade, imensidade, bondade, eternidade, perfeição infinita, etc. Mas de nenhum modo nos pode levar ao conhecimento das realidades divinas, que excedem e transcendem a via do conhecimento natural que o homem pode obter da contemplação dos seres criados. Entre estas verdades infinitamente transcendentes figura, em primeiríssimo lugar, o inefável mistério da trindade de pessoas em Deus. Sem a divina revelação, a razão natural não poderia ter suspeitado jamais a existência de três distintas pessoas na unidade simplíssima de Deus. Pois vejamos o que a Sagrada Escritura, que contém o tesouro da divina revelação escrita, nos diz acerca da divina pessoa do Espírito Santo. Vamos ver, separadamente, no Antigo e Novo Testamento:

 

Antigo Testamento

 

No Antigo Testamento não aparece com clareza e distinção a pessoa divina do Espírito Santo, como tampouco as do Pai e do Filho. Entretanto, há uma multidão de indícios e vestígios que, à luz do Novo Testamento, aparecem como claras alusões ao Espírito de Amor. (Cf. Iniciación teológica (Barcelona 1957) t.1 p.421ss.)

 

A expressão hebraica ruah Yavé (= espírito de Deus) aparece na Antiga Lei em diversos sentidos. São quatro os grupos principais que se podem estabelecer:

 

a) Em primeiro lugar, significa o vento, pelo qual Deus dá a conhecer sua presença, sua força ou sua ira. Assim aparecerá inclusive no cenáculo no dia de Pentecostes. (Cf. Gn 3,8; Ex 10,13 e 19; 14, 21; Sl 18, 16; At 2,2.)

 

É também já desde o princípio o sopro de vida que Deus inspira no homem e até nos animais. Quando Deus o retira, sobrevém a morte e, quando dado aos mortos, ressuscitam. (Cf. Gn 2,7; 7,15; Jb 12,10; 34,14-15; Sl 104, 29-30; Ez 37, 1-14; 2Mc 7,22-23.)

 

Finalmente, em um sentido mais amplo, é o sopro criador, o vento de Deus que faz sair o mundo do nada. (Cf. Gn 1,2; Sl 33,6.)

 

b) Às vezes há certos fenômenos de caráter especificamente religioso que se apresentam em dependência muito íntima do ruah Yavé. Tais são, principalmente, a arte dos obreiros do tabernáculo, o poder de governar ao povo recebido por Moisés e transmitido por ele aos anciãos e a Josué, a força guerreira e o valor dos libertadores de Israel e, sobretudo, a inspiração profética. Esta é recebida individual ou coletivamente, de um modo transitório ou também permanente, com ou sem fenômenos exteriores, pelos chefes do povo e pelos anciãos, ou por indivíduos que não pertencem à hierarquia; e se transmite por contágio ou se transfere. (Cf. Ex 31,3; Nm 11,16-17; 27, 15-23; Jz 3,9-10; 6,34; 11,29; Nm 1,25; 19,20-24; 24,2; Gn 41,38; 2 Rs 2,15; 1Sm 19,24; Ez 1,28; 2,8 3,22- 27; 1Sm 10,5-13; 2Sm 23,1-2; Nm 11,26-29; 19,20-24; 2 Rs 2,9-10.)

 

c) Em um terceiro grupo de textos, ruah Yavé se nos mostra como um sopro de santidade. No Miserere de Davi aparece pela primeira vez a expressão “Espírito Santo”. Seus efeitos são firmeza, boa vontade, contrição e humildade, submissão à vontade de Deus e endireitamento de nosso caminhar, retidão, justiça e paz, conhecimento da vontade divina e dom de sabedoria. Os rebeldes, ao contrário, que forjam projetos ou estabelecem pactos sem esse Espírito, acumulam pecados sobre pecados e entristecem ao Espírito Santo de Deus. (Cf. Sl 51,12-14 e 18-19; Is 57,15; 2 Sl 143,4-7 e 10; Is 32, 15-17;Sb 9,17; Is 30,1; 63,10.)

 

d) Finalmente, ruah Yavé se nos apresenta como um fenômeno essencialmente messiânico, primeiro porque o Messias será possuído sem limites pelo Espírito de Deus e, ademais, porque na época do Messias se produzirá uma intensa efusão do Espírito de Javé. (Is 11,1ss; 42, 1ss; 32,1ss; 442-3; Ez 11,14ss; 33,26-27; Zc 12,10; 13,1-5.)

 

NOVO TETAMENTO

 

É aqui onde aparece a plena revelação do Espírito Santo como terceira pessoa da Santíssima Trindade. O Espírito de Deus preenche a João Batista antes de nascer, leva à Maria o dinamismo do Altíssimo, se transmite à Isabel e, por contágio, (Lc 1,15-17; 1,35; Mt 1,18-20; Lc 1,41-45; 1,67; 2,25-27) a Zacarias e descansa sobre Simeão.(Lc 1,15-17; 1,35; Mt 1,18-20; Lc 1, 41-45; 1,67; 2,25-27.)

 

Jesus tem sobre si o Espírito de Deus, é “movido” por Ele, arrastado por seu dinamismo, com a plenitude que lhe confere sua dupla qualidade de Messias e Filho. Começa seu ministério “cheio do Espírito Santo”, que possui como Filho. O enviará a seus apóstolos depois de sua ascensão e lhes comunicará o dinamismo e ardor necessários para levar seu testemunho até os confins da terra. (Mt 3,16; Jo 1,32-33; Lc 4,1; 10,21; 4,14-16-21; Mc 3, 11; Jo 16,7; At 1,4-8.)

 

Se realizou o dia de Pentecostes com vento e fogo segundo a profecia de Joel, o anúncio do Batista e a promessa de Jesus. Efusão primeira, logo renovada coletivamente em ocasiões diversas, seja por iniciativa divina, seja à petição dos apóstolos, como doação direta de Deus e, mais precisamente, de Jesus, ou mediante o rito de imposição de mãos. (At 2,1-4; 17-18;11,6; 2,33; 11,15-16; 4,31; 8,14-19;10,44-45; 11,15; 15,8; 8,14-19; 10,44-45; 2,23; 19,2-6.)

 

O Espírito assim recebido é um Espírito profético, o que falou pelos profetas; é também um espírito de fé e de sabedoria ou de dinamismo, como o de Cristo. Faz falar em todas as línguas e dá a faculdade de perdoar os pecados. Descende de um modo permanente sobre todos os discípulos de Jesus, assim como sobre o próprio Jesus; dirige constantemente aos apóstolos e a seus colaboradores como Mestre, mas também a ele se pode resistir. (At 2,4-11 e 17-18; 10,44-46; 1,16; 7, 15; 6,5; 11,24; 6,3; 1,8; 4,31; 10,38; 2,4; Jo 20,21-23; 6,3-5; 1,2; 8,29; 10,19; 5,3-9; 17,51.)

 

Em seu maravilhoso sermão da Ceia, Jesus disse a seus apóstolos que o Espírito Santo lhes ensinará todas as coisas e lhes trará à Memória tudo o que Ele lhes disse, lhes guiará para a verdade completa e lhes comunicará as coisas verdadeiras; glorificará a Cristo, porque tomará d’Ele e o dará a conhecer aos apóstolos. (Jo 14,26; 16,13-14.)

 

São Paulo especifica maravilhosamente a teologia do Espírito Santo. É o Espírito de Deus e de Cristo; sua operação é a mesma que a do Pai e do Filho e faz dos justos templos de Deus e do próprio Espírito Santo. Para os fiéis é o Princípio da vida em Cristo, embora viver em Cristo e no Espírito são a mesma coisa. É o distribuidor de todo dom; esquadrinha os segredos de Deus; é o dom por excelência; nos move de forma que agrademos a Deus e não devemos lhe contristar jamais. (Rm 8,9-14; 1Co 2,10-14; 2Co 3,17; 1Co 12,3-13; 6,11; Tt 3,4- 7; 1Co 6,19; 3,16; Rm 1,4; 8,1-16, 22-27; Gl 4,6; 6,7-8; Ef 4,1-6; Rm 5,5; Ef 4,30.)

 

Finalmente, a fórmula do batismo, ditada pelo próprio Cristo, coloca o Espírito Santo em um plano de igualdade com o Pai e o Filho. Nas epístolas de São Paulo aparecem sem cessar as três pessoas divinas associadas. Deste modo, o Espírito de Deus, que pairava sobre o caos primitivo na aurora da criação, aparece depois como um ser pessoal que se manifesta na promoção das almas fiéis e da sociedade cristã. Ele nos faz invocar com gemidos inenarráveis a revelação dos filhos de Deus e a redenção de nossos corpos. Será Ele quem realizará a vinda definitiva de Cristo. (Mt 28,19; Gl 4,6; Rm 8, 14-17; 15,15-16; 1Co 12, 4-6; 2Co 1,21-22; 13,13; Tt 3,4-6; Hb 9,14; Rm 8,26; Ap 22,17.)

 

Estes são os dados fundamentais que nos proporcionam a Sagrada Escritura acerca da pessoa do Espírito Santo. Com base neles e no que subministra à tradição cristã – fonte legítima da divina revelação igualmente com a Bíblia, nas devidas condições – construíram os teólogos a teologia completa do Espírito Santo.

 

Fonte: Fr. Antonio Royo Marín - O Grande desconhecido.